Como levar energia às comunidades isoladas da Amazônia


A Amazônia corresponde a uma imensa área territorial povoada por comunidades isoladas que carecem de infraestrutura. Apesar dos esforços governamentais em ampliar o acesso da população à energia, levar eletricidade para populações residentes em ilhas fluviais ou próximo às margens de rios é um desafio. Um levantamento interno feito pela Eletrobras Amazonas concluiu que há mais de 70 000 pessoas sem acesso à eletricidade na região atualmente.

Para tentar melhorar o acesso local à energia, em 2009, surgiu um projeto-piloto para o fornecimento de eletricidade para comunidades locais a partir de painéis fotovoltaicos. “Instalamos 12 miniusinas de energia solar em 12 comunidades, nos municípios de Autazes, Barcelos, Beruri, Eirunepé, Maués e Novo Airão. Hoje, elas atendem 222 unidades consumidoras – que são casas, escolas, igrejas, postos de saúde, entre outras”, explica Geraldo Arruda, engenheiro eletricista da Eletrobras Amazonas e responsável pela operação e manutenção das miniusinas.

Segundo Arruda, o projeto-piloto teve como base apenas a energia solar, com a intenção de substituir os motores a diesel que as comunidades usavam para gerar energia e abastecer as casas. “É preciso comprar o diesel, que, mesmo com o incentivo do governo, ainda é caro. Por isso, eles acabam tendo energia elétrica apenas de três a quatro horas por dia. Com a energia solar, eles têm fornecimento durante 24 horas.”

A instalação aconteceu em espaços já abertos, como locais próximos a pequenos campos de futebol. “Não tivemos que desmatar nada”, afirma Arruda. Além dos painéis fotovoltaicos, as miniusinas têm controladores para fazer a gestão da energia gerada; inversores, que adaptam a corrente elétrica para o consumo; e baterias para armazenar a energia produzida durante o dia. Sistemas remotos de manutenção permitem que os equipamentos sejam monitorados a distância, da capital, Manaus, o que garante a agilidade nos processos de manutenção e na estabilidade no fornecimento de energia.

A chegada da energia elétrica facilitou a expansão de programas públicos de inclusão digital. A partir de uma parceria com o Ministério das Comunicações, as 12 comunidades receberam antenas, modens e computadores de uso público. “Como a energia elétrica chegou, a população local teve acesso à internet e começou a usar os serviços disponíveis na rede”, afirma.

Segundo Arruda, algumas prefeituras também forneceram computadores para as escolas das comunidades, melhorando a qualidade do ensino. Os povoados passaram a ter acesso aos meios de comunicação, como televisores, e à iluminação pública. Já os pescadores, em grande número no local, podem refrigerar os peixes e garantir uma produção melhor.

Minirredes e geração distribuída

“O projeto foi um teste para ver se seria possível usar apenas os painéis fotovoltaicos, sem a necessidade de sistemas híbridos para complementar a energia do sistema com o motor a diesel. Tivemos muito sucesso”, explica Arruda. Os bons resultados serviram de inspiração para expandir o projeto. Já são planejadas mais 42 miniusinas de energia solar no estado, além de planos similares nas filiais da Eletrobras em Rondônia e no Acre.

A expansão de projetos como esse pode levar também ao surgimento de pequenas redes elétricas que não ficam conectadas à rede tradicional, também conhecidas como sistemas de minirrede com geração distribuída. “Com a instalação de painéis fotovoltaicos sobre as casas da comunidade, o consumidor se torna produtor de energia e começa a contribuir com o fornecimento da rede. Chamamos isso de geração distribuída”, diz o professor Roberto Zilles, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo.

Além das placas fotovoltaicas, um medidor inteligente pode monitorar quanto de energia entra pelo sistema tradicional e quanto de excedente vai para a rede externa. “O consumidor ora utiliza energia da rede, ora fornece eletricidade. Os medidores bidirecionais fazem esse controle. São sistemas inteligentes porque tomam decisões sozinhos para se manter em operação”, diz.

Com isso, os projetos diminuem a necessidade de o governo investir na construção de usinas e cabos de distribuição, uma vez que a energia é produzida mais perto do consumidor. Há também vantagens ecológicas, pois grandes obras, como linhas de transmissão que cruzam a Amazônia, podem ser reduzidas ou evitadas. Um grande auxílio ao desenvolvimento de muitas comunidades locais e à preservação de nossas florestas.

(Divulgação//Estúdio ABC)

15 ago 2017


Por Exame