A longo prazo energia solar compensa


Professor-doutor do curso de engenharia elétrica da Faculdade de Engenharia de Bauru (Unesp), pesquisador na área de energia solar, Alceu Ferreira Alves explica que o interior de São Paulo tem excelente potencial para geração de energia elétrica a partir da fonte solar. Alves cita ainda que o Brasil detém a tecnologia do processo completo, incluindo a purificação e dopagem do silício, que é o material mais utilizado na fabricação dos módulos solares, mas a dependência de equipamentos estrangeiros ocorre com relação aos preços. “Não há no país fábricas de células solares porque devido aos altos custos de produção impostos à indústria nacional, os preços não seriam competitivos com aqueles praticados no mercado mundial”, afirmou. O custo da energia elétrica por fonte solar fica um pouco mais alto se comparado com a gerada por hidrelétrica. “A energia solar apresenta valores na faixa de R$ 200 a R$ 300 por MWh enquanto a hidrelétrica dos grandes empreendimentos situa-se na faixa dos R$ 150 por MWh. Há uma tendência forte de queda nos preços em função do aumento da disponibilidade de fonte solar, prevendose valores competitivos em menos de 10 anos”, explica. A seguir os principais trechos da entrevista por e-mail. JC – Professor, a região de Bauru, Lins e Jaú tem potencial para geração de energia solar? O Estado de São Paulo está em que posição no Atlas de Energia Solar? Alceu Ferreira Alves - Sim, o interior do Estado de São Paulo tem excelente potencial para geração de energia elétrica a partir de fonte solar devido ao elevado índice anual de irradiação solar. De acordo com a segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), lançado em agosto de 2017 com informações coletadas durante os últimos 17 anos, o Interior paulista tem uma irradiação média anual na faixa de 5.000 a 5.500 Wh/ m2 por dia, notadamente as regiões central e norte. Isso coloca o estado em situação privilegiada dentro do Brasil e do mundo. No Brasil, os locais com maior insolação são Bahia, Pernambuco, Ceará e Piauí, atingindo valores de irradiação anual média acima de 6.000 Wh/m2 por dia. Para efeitos de comparação, a Alemanha, um dos países que mais utilizam energia solar em sua matriz energética, em sua região mais ensolarada este índice não chega a 3.500. Com essa disponibilidade de luz solar e a grande demanda por energia elétrica, considerando ainda que São Paulo é o maior consumidor no país, a exploração hidrelétrica está saturada, e as questões ambientais têm sido objeto de maior preocupação da sociedade, a geração fotovoltaica na nossa região é uma solução bastante interessante, aproximando os geradores dos consumidores, diminuindo custos com transmissão e aproveitando ainda a possibilidade da geração distribuída, nas próprias residências ou empreendimentos comerciais ou industriais. JC - Qual é a vantagem desse sistema de geração de energia elétrica solar em relação a usinas de energia elétrica (hidrelétrica), biomassa e eólica? Alceu Alves - A energia eólica, um tipo de geração de eletricidade com inúmeras vantagens, produz ruído durante sua operação e pode interferir na rota de aves migratórias, ainda que esses impactos sejam ‘pequenos’, o potencial eólico para o Interior de São Paulo só acontece para correntes de ar em alturas acima de 100 metros do solo, causando aumento nos custos da geração. A energia elétrica obtida de fonte AURÉLIO ALONSO hidráulica (hidrelétrica), em termos de custos, é atualmente a mais vantajosa, porém, a instabilidade do regime de chuvas tem diminuído o nível dos reservatórios, causando incertezas para o mercado consumidor, além do enorme impacto ambiental causado durante a implantação de usinas, sejam elas de grande, médio ou pequeno porte. O aproveitamento de biomassa - no Estado de São Paulo, basicamente o bagaço da cana-de-açúcar - é obtido a partir da queima, o que gera gases de efeito estufa e polui a atmosfera, além de gerar resíduos sólidos. Nesse contexto, considerando principalmente a disponibilidade da fonte solar (inesgotável na escala humana de utilização), a energia solar fotovoltaica é a melhor opção para nossa região. Apresenta ainda um forte apelo ambiental, já que essa fonte não produz qualquer tipo de resíduo (sólido, líquido ou gasoso) durante a sua operação e não interfere no meio ambiente durante sua construção; pode ser instalada em locais que não servem para agricultura ou pecuária, podendo ainda ser utilizada de forma distribuída, aproveitando os telhados no que se chama ‘microgeração distribuída’. JC – O Brasil domina bem essa tecnologia ou ainda é dependente de equipamentos estrangeiros? Alceu Alves - O Brasil detém a tecnologia do processo completo, incluindo a purificação e dopagem do silício, que é o material mais utilizado na fabricação dos módulos solares. O Brasil, inclusive, possui as maiores reservas desse mineral e desenvolve pesquisas para utilização de novos materiais. A dependência de equipamentos estrangeiros ocorre com relação aos preços. Não há no país fábricas de células solares, porque devido aos altos custos de produção impostos à indústria nacional, os preços não seriam competitivos com aqueles praticados no mercado mundial. Há plantas industriais de empresas multinacionais se instalando no Brasil, mas elas apenas montam os componentes que são produzidos no exterior. Os demais equipamentos que fazem parte do sistema (inversores, controladores de carga, dispositivos de proteção, transformadores, etc.) são fabricados no Brasil, mas também com a maioria dos componentes importados. JC – O custo é alto para investimento? Alceu Alves - O investimento para instalação de energia fotovoltaica é alto, porém o retorno é relativamente rápido. Considerando- se os valores de tarifas de energia elétrica praticados no Brasil atualmente, esse retorno ocorre em um prazo entre 5 e 7 anos para os pequenos geradores. JC – O custo da energia gerado pelo sistema solar é mais em conta do que o gerado por hidrelétrica? Dá para fazer uma comparação? Alceu Alves - Não. A energia hidrelétrica é uma forma de geração consolidada com domínio total da tecnologia e equipamentos totalmente nacionais, com um custo muito baixo se comparado a todas as outras fontes de energia atualmente utilizadas no Brasil, exceto a energia nuclear que tem um custo similar à hidrelétrica. A energia solar apresenta valores na faixa de R$ 200 a R$300 por MWh enquanto a hidrelétrica dos grandes empreendimentos situa-se na faixa dos R$ 150 por MWh. Há uma tendência forte de queda nos preços em função do aumento da disponibilidade de fonte solar, prevendo-se valores competitivos em menos de 10 anos. É importante salientar que nestes valores não estão computados os custos ambientais, o que certamente aumentariam muito o preço das energias nuclear e hidrelétrica. JC – Qual a desvantagem do sistema? Alceu Alves - A desvantagem que não há como superar é a intermitência. Não há luz do sol durante as noites, mas os consumidores precisam da eletricidade. Como fazer? Na verdade, a energia solar não é suficiente por si só, assim como a eólica que também depende da existência dos ventos para movimentar os aerogeradores. É necessário que haja armazenamento, baterias poderiam ser uma alternativa, mas que vai contra o viés da energia limpa por usar metais pesados e componentes tóxicos em sua fabricação. A solução são as fontes integradas, formando as ‘redes inteligentes’, ou seja, a energia solar e a energia eólica seriam complementares ao potencial hidrelétrico já instalado, de modo que quando o sol brilhar ou quando os ventos soprarem, a energia elétrica vem dessas fontes, ficando a água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas para ser usada quando não houver disponibilidade de luz solar ou ventos.

13 nov 2017


Por Jornal da Cidade