Smart Campus tem tecnologia a serviço do bem-estar coletivo


Em um mundo de aglomerações urbanas cada vez maiores, as cidades precisam de soluções mais inteligentes para garantir que haja crescimento econômico com sustentabilidade e qualidade de vida para seus cidadãos. É isso o que buscam as chamadas smart cities, ou cidades inteligentes. "Uma cidade inteligente é aquela que tem cidadãos felizes, saudáveis, integrados com essa cidade. Que foque na educação, na saúde, que foque na qualidade de vida do seu cidadão", explica a professora Regiane Relva Romano, coordenadora do Smart Campus da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens). 

Dentro do campus, há coleta de dados contínua, por meio de sensores, câmeras e outros dispositivos. "Nós mensuramos a água, a energia, quantos carros estão no campus através da visão computacional, nós sabemos quantas vagas estão preenchidas no campus, quem estacionou errado...", detalha a professora. Nas caixas d"água há sensores de volume, que sinalizam quando é necessário acionar as bombas que puxam água do poço artesiano, e há até um aplicativo que mensura o nível de estresse dentro da faculdade. A análise é feita por meio de perguntas e o aplicativo ainda envia dicas para melhorar o bem-estar do usuário. Todos os dados são apresentados em um painel. "Nós temos o controle do campus inteiro, praticamente, a um clique de distância nesse painel", afirma Regiane. 

A professora aponta que, em uma cidade inteligente, a tecnologia é um meio e não um fim. "O objetivo dessa tecnologia é suportar toda a infraestrutura para tornar a vida desses cidadãos melhor", afirma. Ou seja, as ações são norteadas pelo fator humano. A faculdade desenvolve desde 2015 a iniciativa Smart Campus. O objetivo é, por meio de vários projetos e laboratórios, transformar o campus da instituição em uma "mini cidade inteligente". 

O conceito de Internet das Coisas (Internet of Things - IoT) é uma das ferramentas utilizadas para alcançar esse objetivo. A professora aponta que, em termos gerais, o IoT é a conectividade que usa a internet para enviar e receber dados de dispositivos. Isso pode ser aplicado em objetos do dia a dia, de pesquisa e até estruturas prediais. Em nosso cotidiano, o celular é um exemplo de "coisa" que recebe e envia dados, mas já há lâmpadas, caixas de som, rastreadores e outros objetos com a tecnologia. 

Eixos 

Os diversos projetos do Campus acontecem em nove eixos: Educação e Cultura; Energia; Indústria e Negócios; Meio ambiente; Mobilidade e segurança; Saúde e Qualidade de vida; Tecnologia da Informação e Comunicação; Urbanização e Governança. As ações são norteadas pelos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), que incluem metas sociais, de saúde e sustentabilidade. Ou seja, o objetivo final é sempre buscar formas de melhorar a qualidade de vida. O projeto ganhou o prêmio IDTechEx Europa 2018 na categoria "Melhor Desenvolvimento de Tecnologia IoT" 

Projeto envolve mais de 180 estudantes 

Em uma cidade inteligente, tudo é repensado e planejado. Em uma volta pelo campus da faculdade, observa-se a aplicação do conceito em cada detalhe. As lâmpadas foram trocadas o que gerou -- em alguns prédios -- até 86% de economia de energia. As torneiras dos banheiros receberam redutores de vazão, que diminuem o gasto de água. Há coletores de bituca de cigarro, coleta seletiva e até coletores de lixos eletrônicos. As árvores possuem placas com QRcodes, que permitem consultar pelo celular uma variedade de informações sobre a espécie. As folhas e frutos que caem no chão fazem parte da compostagem, que é utilizada na horta do local. Painéis fotovoltaicos, instalados em um dos prédios, produzem energia solar, gerando de 14% a 16% de toda a energia consumida no campus. 

São mais de 180 estudantes envolvidos diretamente em projetos do Smart Campus e toda a comunidade (professores, alunos e colaboradores) envolvida indiretamente ao usufruir do espaço. A faculdade possui ainda os Laboratórios de Inovação Social (Lis), Centro de Empreendedorismo (Face), Laboratório de Inovação de Games e Apps (Liga). 

A efervescência tecnológica é evidenciada pela quantidade de projetos com os quais se esbarra em uma única manhã pelo campus. Em um lado, um grupo se prepara para uma oficina de métodos construtivos diferenciados, em que seria usado barro. Em outra sala são desenvolvidas tecnologias para iluminação pública -- com o objetivo de identificar a quantidade de pessoas em um espaço, permitindo o ajuste da quantidade de luz e economia energética. Uma horta hidropônica, com reutilização de água, chama a atenção de quem passa. E até um premiado carro elétrico pode ser conferido em uma garagem. O espaço respira tecnologia.

Conectividade já é realidade

Embora possa parecer uma realidade distante, dos filmes futuristas, as cidades inteligentes já são realidade. Songdo, na Coréia do Sul, por exemplo, é um distrito comercial idealizado completamente dentro do conceito de cidade inteligente. Iniciativas mais modestas, no entanto, também já fazem parte de nossas vidas.

Sorocaba, por exemplo, possui a Infovia, que é uma rede formada por 270 quilômetros de fibra óptica interligando todas as unidades da Prefeitura de Sorocaba. O Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS) abriga diversas incubadoras e inovações. Outra iniciativa é o aplicativo para celulares CittaMobi, onde os usuários podem consultar as linhas que fazem embarque e desembarque em determinado ponto e podem saber em quanto tempo os ônibus passarão no ponto desejado, pois os veículos são monitorados e os dados enviados em tempo real.


No Brasil, o ranking Connected Smart Cities, elaborado pela Urban Systems classificou as cidades mais inteligentes e conectadas entre 500 municípios. Em 2017 e 2016, Sorocaba ficou com a 60ª posição.

30 abr 2018


Por Priscila Fernandes