Petrobras fecha acordo com Total para investir em energia solar e eólica


O anúncio surpreende porque vem no auge da estratégia de desinvestimentos, quando a companhia tenta se desfazer de negócios paralelos que vão desde o parque de refino até a fabricação de fertilizantes, passando por subsidiárias de distribuição. A guinada para as renováveis segue, com atraso, um movimento global e deve figurar com destaque no plano de negócios 2019- 2022, disse o diretor de Estratégia da companhia Nelson Silva. 

Apesar disso, ele garante que ainda não há dotação orçamentária para tais investimentos. O anúncio funciona, então, como um sinal de que a empresa tem interesse em crescer na geração desse tipo de energia, deixando o estágio inicial em que se encontra hoje. 

A estatal possui quatro parques eólicos em parceria, que entraram em operação ainda em 2011, após serem negociados no leilão de energia de reserva de 2009. Juntas, essas usinas totalizam 104 MW instalados. É pouco, apenas 6,6% da capacidade instalada de energia solar do país (1571 MW). E como a companhia não participou de nenhum dos cinco leilões de energia solar realizados de 2014 para cá, tudo indica que essa participação será ainda menor no médio prazo. Até por isso, o anúncio guarda certo ineditismo.

“É muito bom ver grandes players como a Petrobras entrarem nesse negócio. Isso só mostra que a solar é a energia do presente e não mais a energia do futuro, como sempre dizem”, comemorou Ricardo Barros, vice-presidente de da Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica. 

Já para Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, o anúncio indica falta de uma estratégia de longo prazo da estatal. “Quando estava lá, em 2007, chegamos a criar um projeto para desenvolver tecnologia fotovoltaica própria. É irônico, porque a transformação da Petrobras em uma verdadeira empresa de energia foi abortada e agora voltam a pensar nisso. É uma política de zigue-zague”, critica. 

De acordo com o comunicado da empresa, “a realização do acordo faz parte de uma estratégia para desenvolver negócios de alto valor em energia renovável, em parceria com grandes players globais, visando a transição para uma matriz de baixo carbono”. A vantagem de uma parceria como essa seria a “diluição de riscos relacionados ao negócio”, já que a empresa francesa vem acumulando expertise na área. 

Em 2017, a Total adquiriu participação indireta de 23% na Eren Renewable Energy, movimento que gerou a Total Eren, que concentrará os esforços do grupo em renováveis. no mês passado, o Cade permitiu que os franceses comprassem três parques solares da espanhola Cobra em São Paulo (Dracena I, Dracena II e Dracena IV). Com a incorporação das usinas, ainda em construção, a empresa, que hoje produz 40 MW, terá capacidade instalada de de 150 MW.

Os investimentos em energia solar também estão em pleno vapor. No início do mês, a Total finalizou a aquisição de 73,04% da empresa de energia renovável Direct Energy, para complementar o portfólio da empresa naquele país. O objetivo da Total é alcançar uma capacidade instalada líquida global de mais de 3 GW até 2022. 

Com o acordo, a Petrobras segue, tardiamente, o movimento de grandes empresas de energia, como a italiana Enel ou a petroleira norueguesa Equinor (ex-Statoil). Os noruegueses, por exemplo, compraram 40% da usina de energia solar Apodi, no Ceará, projeto que inaugura os investimentos deste tipo no Brasil. A estatal nórdica já opera os parques eólicos Sheringham Shoal, Dudgeon e Hywind Scotland, no Reino Unido e têm 50% do parque eólico de Arkona, na Alemanha, que deve começar a entregar energia em 2019. 

Sobre energia eólica, o diretor Nelson Silva também lembrou que a Petrobras possui terras no Nordeste do país que podem ser úteis à instalação de aerogeradores. Silva disse que, embora o desenvolvimento de negócios onshore seja uma prioridade, parcerias para negócios offshore (em alto mar) também estão no horizonte.

11 jul 2018


Por GABRIEL VASCONCELOS