Investimento em painéis solares ajuda a melhorar as operações no campo


Que tal contar com fornecimento gratuito de energia elétrica na fazenda? Esse sonho já é uma realidade em muitas fazendas. O Sol se tornou um grande aliado do produtor rural na tarefa de zerar a conta de energia. Com vida útil superior a 25 anos, os painéis solares estão mais baratos, prometem rápido retorno e estão se multiplicando rapidamente no campo brasileiro.
Entre as vantagens, a tecnologia permite driblar o alto custo da energia elétrica de matriz hidrelétrica, um problema que há anos incomoda o agronegócio. “Cansados dos constantes aumentos na conta de luz, os produtores já não veem a aquisição como uma simples alternativa, mas, sim, como uma grande solução para fugir dos altos custos da conta de energia”, afirmou o engenheiro eletricista Vitor Hugo Cordeiro Teixeira, da Biowatts, empresa de soluções em energia solar fotovoltaica em entrevista à Farming Brasil.

Como começar?
De acordo com Teixeira, o produtor rural que deseja investir em energia solar geralmente tem duas grandes dúvidas: o custo para aquisição e instalação dos equipamentos e o tempo de retorno do investimento. A boa notícia é que a tecnologia está mais acessível no Brasil. “Hoje chegamos num patamar de viabilidade máxima do produto devido aos baixos custos dos equipamentos no mercado, permitindo um retorno rápido do investimento.”  

Cálculo de demanda

Para começar um projeto fotovoltaico, o primeiro passo deve ser apresentar a conta de luz da fazenda para a empresa responsável pela implantação. “Dessa forma, a fatura poderá ser analisada e o sistema poderá ser dimensionado com o propósito de atender o consumo do cliente”, explica Teixeira. Após essa análise, o projeto será desenhado. É importante saber que, após a implantação do projeto na fazenda, o sistema será vistoriado pela concessionária local para então receber a liberação de geração de energia.  

Investimento e instalação

De acordo com as informações apuradas pela Farming Brasil, a depender das exigências de cada cliente, o investimento mínimo nesse tipo de tecnologia fica entre R$ 5.500 e R$ 6.000. Já o tempo médio de instalação pode variar de dois até 30 dias, a depender do porte do sistema que será instalado para o cliente final.  

Dinheiro na mão

Caso o produtor não tenha capital disponível, ele pode buscar linhas de crédito que contemplem esse tipo de investimento. Atualmente, vários bancos estão enquadrando o sistema fotovoltaico em suas linhas de crédito, com benefícios especiais.  

De acordo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), desde 2015 estão sendo estruturadas, em parceria com o governo e com os bancos, diversas linhas de crédito que incentivam o investimento e facilitam o financiamento de projetos de geração de energia solar e eólica.  

Aproveitando espaços

As placas de energia solar fotovoltaica podem ser instaladas sobre telhados, no solo ou em estacionamentos, o objetivo é aproveitar áreas que estejam sem uso. “Cada placa possui 2 m², logo, a quantidade total de placas multiplicada pela área de cada uma nos fornece a área disponível para instalação do sistema”, diz Teixeira.  

Prazos e exigências

Para começar as operações, o produtor precisa que as concessionárias de energia aprovem o sistema de geração da fazenda e pode se deparar com dificuldades. O produtor pode ter de lidar com atrasos e exigências legais. “Entre os principais desafios se encontram a aprovação dos financiamentos de forma mais célere e desmistificação das normas do setor”, diz Teixeira.

 A regulamentação normativa 482, de 2012, da Agência Nacional de Energia Elétrica, é a que permite a geração de energia de fontes renováveis. O documento estabelece um prazo máximo para que as distribuidoras respondam aos pedidos de conexão do sistema com a rede elétrica.  

De acordo com Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, existem prazos de retorno que devem ser cumpridos pelas distribuidoras de energia. Para projetos de pequeno porte, com até 75 quilowatts de potência, a distribuidora deve dar retorno em até 34 dias. Projetos de maior porte, com potencial entre 75 quilowatts e cinco megawatts, o equivalente a 5 mil quilowatts, têm prazo ampliado.  

O prazo de retorno deve ser informado e respeitado pelas distribuidoras de energia. “As principais reclamações do setor e do mercado são que esses prazos não têm sido cumpridos, e isso é um problema que precisa ser fiscalizado pela Aneel”, afirmou Sauaia em entrevista à Farming Brasil. “É preciso que os prazos regulatórios sejam de fato cumpridos como havia sido estabelecido pela regulamentação.”  

Em casos de atrasos ou exigências que não estejam de acordo com as normas, o produtor rural pode entrar em contato com Aneel e solicitar que a agência verifique e avalie se a distribuidora em questão está descumprindo o regulamento.  

Quem precisa de energia solar?

Os sistemas de energia solar podem atender qualquer produtor rural, mas já se destacam em alguns setores do agronegócio. Os projetos desenvolvidos pela empresa paranaense Biowatss no ramo da agropecuária estão fazendo sucesso especialmente entre os avicultores, suinocultores e piscicultores, cujas atividades exigem elevado consumo de energia.  

“Normalmente, os projetos feitos para essas áreas suprem 100% do consumo atual de energia desses produtores. Em qualquer atividade que necessite de energia elétrica a energia solar pode ser adaptada, seja para consumo direto ou armazenamento de energia”, diz o engenheiro.  

Vantagem financeira

Segundo o presidente da Absolar, o produtor rural brasileiro está mirando a geração de energia para uso próprio na fazenda. Mas, o investimento pode ir além e garantir renda extra com a geração de energia adicional que pode ser distribuída pela rede elétrica para consumo em áreas urbanas.  

Sauaia explica que toda usina tem um medidor bidirecional instalado, que calcula o consumo da rede e a energia que a usina da fazenda injetou na rede. “Se por ventura o produtor rural gerar mais energia do que consumiu, ele pode acumular créditos de energia para consumir em até 60 meses e reduzir os gastos de energia elétrica”, diz o presidente da Absolar. “Além da economia nos gastos com energia elétrica, o produtor passa a ter maior segurança e autonomia no suprimento energético e com qualidade.”  

Vida útil e manutenção

As placas solares têm durabilidade de 30 a 40 anos. Para conservar os equipamentos, os especialista orientam que o produtor deve realizar limpeza com água e sabão neutro quando houver sujeira sobre as placas.  

Para se inspirar

Luiz Carlos Figueiredo, produtor rural e presidente da Associação dos Irrigantes do Estado de Goiás (Irrigo) foi pioneiro ao investir na primeira usina solar fotovoltaica flutuante do Brasil. O projeto foi implantado em 2016, na Fazenda Figueiredo, localizada em Cristalina (GO). “Nós temos uma potencialidade muito grande de produzir energia solar. As energias alternativas estão bastante difundidas e estão mais baratas que produzir energia hidrelétrica”, diz Figueiredo.  

Os painéis foram instalados em cima de um lago destinado à captação da água da chuva. Por enquanto, a energia gerada pelas placas fotovoltaicas atende as necessidades da produção de leite, mas deverá no futuro suprir toda a demanda energética da fazenda. “Eu vi isso como uma necessidade para fazer economia e vi que era um bom negócio. Temos um clima fantástico para produzir energia fotovoltaica em qualquer lugar do Brasil.”  

Ele conta que o investimento na produção de energia solar passou de R$ 2 milhões. A projeção é de que o valor seja recuperado em sete anos. “A usina tem uma vida útil de mais de 25 anos, então, passados os sete anos, teremos energia a custo zero”, diz o produtor.

Operações e crescimento

Atualmente, a energia solar fotovoltaica alimenta o sistema de ordenha, a fábrica de ração e equipamentos que garantem o conforto dos animais, como ventiladores. “O conforto [animal] é muito importante e dependemos da energia elétrica pra ligar os ventiladores”, conta Figueiredo. Com um rebanho de 2.000 animais e 900 vacas em lactação, a produção de leite é de aproximadamente 30 mil litros por dia.  

O produtor rural planeja ampliar a geração de energia para atender outras atividades da fazenda nos próximos anos. Atualmente, a produção está estimada em 50 megawatts-hora por mês. “Estamos otimistas para migrar para irrigação”, diz Figueiredo. “Quando a gente irriga o custo [da energia elétrica] é muito alto. Se nós produzirmos energia não vamos ter adicional vermelho e impostos.”  

Expansão acelerada

Até fevereiro de 2018, o Brasil tinha mais de 23 mil sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede de distribuição de energia, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Apesar do avanço da adoção da tecnologia no País, ainda existem muitas dúvidas sobre o uso de energias renováveis, principalmente na agropecuária.  

De acordo com o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, essa tecnologia ainda tem uma participação pequena na matriz elétrica brasileira, mas os números crescem a cada ano. “A energia solar fotovoltaica tem feito cada vez mais sentido na área rural, é uma tecnologia versátil e pode ser aplicada de várias formas nas atividades rurais”, afirma Sauaia. “Estamos projetando um crescimento anual de 150 megawatts para todo o mercado em 2018.”  

No ranking dos setores que mais usam a energia solar fotovoltaica, o agronegócio aparece na quarta posição, atrás do setor de comércios e serviços, consumidores residenciais e indústrias. A perspectiva é que o número de sistemas instalados em zona rural dobre até o fim deste ano.  

Para o engenheiro eletricista Vitor Hugo Cordeiro Teixeira, da empresa Biowatts, quanto mais essa tecnologia se difundir, melhor para o Brasil. “O agronegócio está pronto para esse boom devido à crise energética que o País vive desde o início dos anos 2000. As concessionárias não veem a hora dos consumidores ficarem cada vez mais independentes, dessa forma teríamos um desafogamento do setor elétrico”, afirmou Teixeira durante entrevista à Farming Brasil.  

Os principais gargalos do setor

Apesar da importância da energia solar, alguns gargalos barram o crescimento do setor no Brasil. De acordo com a Absolar, existe uma resolução normativa que foi estabelecida para regulamentar o setor. Porém, os principais entraves estão relacionados ao não cumprimento das normas.  

Lentidão

Em janeiro de 2017, a Aneel determinou que as distribuidoras de energia deveriam disponibilizar um sistema online que informa sobre a submissão e acompanhamento de pedidos de conexão de geração de energias renováveis. Porém, de acordo com a Absolar, nem todas as distribuidoras se adaptaram às novas normas, o que deixa todo o processo mais lento.  

“O produtor que está no campo nem sempre tem uma agência da distribuidora perto dele”, afirma o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia. Por isso, é fundamental que o sistema permita que essas pessoas façam seus pedidos online e acompanhem o andamento do processo sem a necessidade de se deslocar até uma agência física.  

Documentação

Ainda segundo o presidente da Absolar, outra reclamação do setor é que algumas distribuidoras exigem mais documentos do que o estabelecido pelas normas da Aneel. “Isso gera uma barreira, você acaba exigindo informações e documentações que o produtor não tem acesso”, diz Sauaia.  

Medição

Os medidores bidirecionais são outro gargalo para quem deseja investir na energia solar fotovoltaica. O aparelho é responsável por medir o quanto de energia a fazenda consumiu e o quanto o sistema solar injetou na rede elétrica. Com essa medição, é calculada a geração de energia e possíveis créditos para o produtor.  

O problema é que as distribuidoras de energia são responsáveis pela instalação do medidor, mas alegam que o aparelho está em falta no Brasil.  

Para resolver essa situação, em vez de instalar o medidor bidirecional, a Aneel autoriza a instalação de dois medidores do tipo unidirecionais. “As distribuidoras não podem atrasar [a instalação] pelo fato de não possuir o medidor, elas devem instalar os medidores unidirecionais, um para a entrada e outro para a saída da rede”, afirma Sauaia.  

8 aplicações da energia solar no agronegócio:

– Bombeamento de água

– Irrigação

– Tanques de piscicultura

– Iluminação

– Cerca elétrica

– Aeradores

– Sistema de segurança

– Ventiladores

– Sistemas de ordenha

 

24 abr 2018


Por Naiara Araújo